Alta do gás leva indústria do vidro a rever projetos de ampliação

Grandes fabricantes de vidro vivem fase de retrocesso devido às seguidas altas do gás, fonte energética que representa mais de 20% do custo total de produção.

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Nos últimos 18 meses, o gás aumentou mais de 30%. Estudos feitos para a Abrace mostram que, se o preço caísse pela metade, possibilitaria aumento anual de 0,5% na economia brasileira até 2025.

 

Insumo termômetro da indústria brasileira, o preço do gás natural (GN) vendido pelas distribuidoras no Brasil está entre os mais altos do mundo, aniquilando a competitividade das indústrias nacionais altamente dependentes do combustível, como por exemplo, a indústria do vidro.

Enquanto nos EUA, as cotações do insumo oscilam entre US$ 3 a US$ 5 por milhão de BTU, aqui o preço fica entre US$ 12 a US$ 15, quase o triplo do México e seis vezes mais elevado que o apurado na Rússia. A situação faz com que petroquímicas analisem investimentos na América do Norte, enquanto indústrias que consomem o energético pensam duas vezes antes de ampliar a produção.

O programa Minha Casa, Minha Vida e a ascensão social têm feito crescer os negócios da UBV, que fabrica vidros planos para o setor de habitação popular. Dois segmentos têm sido impulsionados: o de box para banheiros e o de móveis com vidro. “O setor de construção popular está muito ativo”, disse o presidente da empresa, Sergio Minerbo, em recente entrevista ao Valor Econômico. A UBV produz cerca de 250 toneladas por dia de vidro plano.

A empresa estuda a ligação de um segundo forno, que poderia acrescentar pouco mais de 100 toneladas à sua capacidade. “Mas, para ligarmos esse forno, seria preciso ter demanda e gás mais barato”, diz o executivo. Nos últimos 18 meses, o gás aumentou mais de 30%. “É o insumo mais caro que temos, responde por 25% da nossa planilha, o que reduz nossas margens em um momento em que a mão de obra também está mais cara”, diz Minerbo. Além dos custos crescentes, a empresa tem visto aumento da importação da China em algumas linhas de produtos. “O mercado exportou uma parte do crescimento para fora”, destaca.

A Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace) está se debruçando sobre ideias para reduzir o preço do gás. Uma delas é que, se o governo tomasse a mesma direção da queda de tarifas verificada no setor elétrico, em que foram eliminados alguns encargos setoriais, poderia ser suprimida a tarifa de transporte, que representa cerca de 15% do insumo. Além disso, é essencial indicar para o setor industrial que ele terá prioridade no acréscimo da oferta prevista para os próximos anos. “No curto prazo, não se vislumbra grande alteração da oferta do gás, mas, em três anos, com o gás não convencional e aumento da exploração do pré-sal, podemos ver mais gás disponível”, diz o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa.

Hoje a oferta de gás para a indústria está em cerca de 30 milhões de metros cúbicos diários, quase o mesmo volume do insumo voltado para as térmicas. Em três anos, com a entrada de gás não convencional e, depois disso, com a exploração do pré-sal, a oferta poderá começar a crescer. “É preciso trabalhar para que, ao lado do crescimento da oferta, o país possa ter preços competitivos e isso possa chegar à indústria”, afirma o presidente da Abrace.

Estudos feitos para a Abrace mostram que, se o preço caísse pela metade, para US$ 7 por milhão de BTU, isso possibilitaria aumento anual de 0,5 ponto percentual na economia brasileira até 2025.

Os efeitos da exploração da camada pré-sal no aumento da oferta de gás para a indústria e sobre os preços do insumo são incertos. O pré-sal está distante 300 quilômetros da costa brasileira, mais de três vezes a distância da Bacia de Campos, que hoje concentra cerca de 80% do óleo extraído no país.

O transporte desse gás aos centros de consumo poderá ser caro. Desenvolver esses campos também poderá levar tempo. “O gás poderia representar o nosso futuro e ser um grande diferencial, permitindo que pudéssemos ter novas estratégias, como participações em térmicas. Mas existem várias incertezas rondando o pré-sal e não tivemos leilões por muitos anos, o que prejudicou o aumento da oferta”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Alumínio (Abal), Adjarma Azevedo.

Fonte: Valor Econômico